segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


MOONRISE KINGDOM - Em cinema é complicado cravar algo, muitos atores/atrizes/cineastas mudam conforme vão ficando mais experientes, é algo normal. Mas alguns se mantém fiéis ao próprio estilo. E quando se entra no quesito "estilo", poucos o tem tão claramente definido e de uma forma tão única quanto o diretor de Moonrise Kingdom. Se analisar a sua filmografia, curta para quem tem pouco menos de 20 anos de carreira  - Pura AdrenalinaTrês É Demais, Os Excêntricos Tenenbauns, A Vida Marinha Com Steve Zissou, Viagem à Darjeeling, O Fantástico Sr. Raposo - muitos elementos se conectam, como os personagens excêntricos (bebido em Fellini), os cortes secos para quadros estáticos e com muita profundidade (bebido em Kubrick), os filmes divididos em capítulos e o clima tragicômico, com o uso de cores fortes em situações absurdas. Este é o mundo de Wes Anderson.

O herói e Wes Anderson em ação
Mergulhar no mundo dele significa se deixar levar pela história, pelas situações e pelos personagens. Em Moonrise Kingdom, Wes conta a história de um jovem casal, de uns 13 anos cada um, que decidem fugir para ficarem juntos. Mas o fazem, como não poderia ser diferente, de uma forma ingênua e cheia de furos, afinal não passam de crianças. Os pais da menina e os "amigos" escoteiros do menino saem em uma caçada pela montanhosa região a fim de encontrá-los. Bill Murray, Bruce Willis, Frances McDormand e Edward Norton estão entre os astros do filme. Mas Wes os deixa sempre, assim como acontece em seus outros filmes, em papéis coadjuvantes. O foco da história fica sobre os desconhecidos Jared Gilman e Kara Hayward em seus primeiros papéis no cinema.

O jovem casal em fuga
A diversão é garantida. A história, claro, é totalmente absurda. Assim como as situações criadas pela trama. Mas sempre fica aquele gosto de "quero mais". A cada cena a expectativa aumenta, se esperando que na próxima algo ainda mais absurdo aconteça. 

Os 4 astros do filme em papéis secundários
Nunca se sabe ao certo o que se esperar de um filme de Wes Anderson. O melhor é relaxar e viajar na história. Jamais deve-se esperar muito e nem tampouco subestimar o que aparece na tela. A surpresa acontece a cada take, a cada fotografia cuidadosamente montada e a cada personagem, meticulosamente construído. Moonrise Kingdom vale cada minuto. Um pequeno grande filme, ideal para as telonas porque é lá que o fascínio só aumenta.

domingo, 30 de dezembro de 2012

DESAPARECIDO - UM GRADE MISTÉRIO (Or. Missing) - Ultimamente venho tendo muito contato com um tema que sempre me intrigou por muito tempo, principalmente no período escolar - os anos de chumbo. Mergulhei a fundo nesse tema e passei a conhecer melhor as engrenagens que fizeram funcionar a ditadura no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Chile, nas décadas de 60, 70 e 80. Foi assim que voltei a ter contato com um dos mais importantes cineastas da história, cujas obras sempre tem um olhar voltado para a política. Trata-se de Costa-Gavras.

Costa-Gavras em ação
Z, de 1969, talvez seja a sua obra mais famosa. Lhe rendeu três indicações ao Oscar como roteiro, diretor e filme. O Oscar veio em 1983 com este Desaparecido - Um Grande Mistério, como melhor roteiro. Ainda concorreu em melhor ator, atriz e filme.

A capa do livro
Desaparecido é baseado em um livro (escrito por Thomas Hauser)  de mesmo nome que conta a história real de um jornalista norte americano, Charles Horman, que vai morar no Chile para analisar as consequências de um governo de esquerda no país, no caso presidido por Salvador Allende. Jack descobre uma ligação entre o governo norte americano e o chileno e começa a pesquisar o motivo dessa ligação. Allende é deposto por Pinochet e se inicia um período negro de forte repressão no Chile. Dado como desaparecido, Jack Horman, o pai, é avisado do fato e segue rapidamente para o Chile, para tentar localizar o filho. Aí está a grande angústia do pai, a busca por um filho que não sabe se está vivo. As autoridades afirmam que ele está, mas dão provas que apenas despistam a busca do pai, aumentando cada vez mais a agonia, que se arrasta por todo o filme. O pai é vivido com maestria por Jack Lemmon e sua nora é Sissy Spacek.

A busca pelo filho e pelo marido
É assustador reviver aqueles anos e reconstruí-los com tamanha eficiência. O exército nas ruas, atirando para o alto exigindo o respeito ao toque de recolher. Os corpos espalhados por Santiago e o Estádio Nacional, usado como campo de concentração. E saber que tudo isso foi feito graças à contribuição direta das ditaduras dos países vizinhos é o que mais incomoda. Todos foram cúmplices.

Dentro do Estádio Nacional
Para quem vê o filme e não está acostumado ao estilo do diretor, pode parecer cru demais, sem o uso de trilha sonora ou grandes trucagens, até simplório de uma certa maneira, mas este é o cinema de Costa-Gavras. Simples e eficiente. O mesmo não se pode dizer da busca de Jack Horman.

sábado, 29 de dezembro de 2012

O IMPOSSÍVEL (Or. The Impossible) - Você já parou pra pensar como a Espanha está se tornando uma potência em diversas áreas? O esporte talvez seja o setor cujo domínio espanhol se mostra mais forte. No cinema isso também acontece, e não é de hoje não.


Um dos poucos momentos de alegria em "O Impossível"

Cinema é gosto pessoal, é claro, não dá para fazer uma medição incontestável como um título mundial de Nadal ou Alonso, mas é inquestionável como as produções espanholas e os diretores espanhóis estão tomando espaço no cenário cinematográfico mundial. Depois do domínio longo de Almodóvar como único cineasta espanhol respeitado pelo cinemão é, finalmente chegada a hora de passar o bastão. Os três expoentes deste claro crescimento são Alfonso Cuarón, Alejandro Iñarritú e Guilhermo del Toro. Como produtores e/ou diretores estes nomes podem ser vistos por trás de obras como Babel, 21 Gramas, O Labirinto do Fauno, Biutiful, REC, O Orfanato e O Impossível.


O diretor Bayona em ação

Essas duas últimas obras são dirigidas por Juan Antonio Bayona, as suas duas únicas na carreira e ele já se mostra um cineasta preocupado não apenas com a forma, abusando de cenários melancólicos e uma bela fotografia, mas também com a consistência dos seus personagens, sempre muito bem construidos.

A família chegando ao resort

O Orfanato foi um sopro de novidade no gênero de terror, já em O Impossível Bayona emociona com a história real da família espanhola Belon, transformada em Bennett, e tendo como protagonistas Naomi Watts e Ewan McGregor e seus três filhos. Eles estão de férias num hotel à beira mar quando acontece a maior tragédia natural da nossa época, o tsunami no final de 2004 que devastou parte da costa asiática. E aí está um grande acerto de Beyona, as impressionantes sequências da tragédia. E depois toda a tentativa de sobreviver nessas condições, com ferimentos profundos e perdidos em um lugar completamente destruído. É de dar medo.

A chegada do tsunami
Todos se lembram das imagens da tragédia, centenas de milhares de mortos, famílias destroçadas e histórias interrompidas no auge. Muito se criticou em O Impossível do porque se focar na visão de uma família européia para uma tragédia vivida por uma enorme maioria de asiáticos. É uma questão que fica. Mas na verdade o que vale é o registro do filme, de uma história de uma família que foi pinçada na tragédia e que quiz contar o seu drama.

Uma família destroçada

Fica a história, a tristeza e os suspiros das lágrimas rolando pela sala de cinema. Prepare-se. Não é uma viagem fácil. Fique até o final dos créditos.