quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

David O. Russell no set de "O Lado Bom da Vida"
O LADO BOM DA VIDA (Silver Linings Playbook / 2012) - Pense no Oscar. Na maior premiação do cinema mundial. Você concorda com todos os premiados? Ou mesmo com os indicados? Acho que, assim como eu, não. Pois para a premiação deste ano eu acho que rolaram alguns exageros. Podem dizer o que quiserem jamais vão me convencer que um filme como O Lado Bom da Vida merece 8 indicações. E olha que dei chance, assisti ao filme com a melhor das intenções.

A bem explorada relação entre pai e filho

A história gira em torno de Pat (o surpreendente Bradley Cooper), recém saído de um instituto onde passou os últimos 8 meses controlando os constantes acessos de raiva que sente por uma triste memória recente - o dia que voltou do trabalho e pegou sua mulher tomando banho com outro cara. A barra pesada também sobra pra família - o pai Robert De Niro (como sempre bom) viciado em apostas e torcedor fanático dos Eagles e a mãe protetora Jacki Weaver (nada além de ok) - que aceitam de volta o filho problemático. Pat  vê na retomada do relacionamento com a sua esposa um porto seguro para sua desajustada vida, mas enquanto batalha por isso encontra Tiffany (a ótima Jennifer Lawrence), que acaba por bagunçar sua vida e suas emoções.

O improvável casal

David O. Russell, diretor do também premiado O Vencedor (drama de boxe com Christian Bale e Mark Whalberg), leva muito bem a trama de O Lado Bom da Vida. A montagem e a edição, uma das categorias que o filme concorria ao Oscar 2013, tem grande destaque, não seria exagero caso o filme fosse premiado nesta categoria. A câmera na mão, tremendo até o limite certo, nos faz sentir parte daquela família, nos conduzindo direto para o meio da discussão na sala de jantar, nos fazendo viver aqueles conflitos. Obviamente que a ótima química entre Cooper, De Niro e Weaver ajuda muito e faz toda a diferença.

De Niro, sempre o mesmo, sempre bom

Voltamos a questão da premiação ou no caso da nomeação, onde como disse, a Academia forçou a barra neste filme. Pra começar Cooper está muito bem, calou minha boca que sempre o achei "lugar comum", indicação de melhor ator merecida; De Niro também (embora ache que ele só tenha conseguido a indicação por ser quem é e nem tanto pela atuação, que penso está ligada no modo automático); assim como Russell na direção, que não atrapalha, só abre caminho para seus atores brilharem. Jennifer Lawrence está muito bem, essa sim é dona da situação. Poderia ter ficado com uma (merecida) indicação, mas acabou premiada com a estatueta (pessoalmente eu daria para Naomi Watts em Impossível). Já Jacki Weaver como atriz coadjuvante passa longe de uma indicação merecida, nada a ver.

Jennifer Lawrence está muito bem no filme, mas merecia mesmo o Oscar?

Em resumo - O Lado Bom da Vida é um bom filme, isso não se nega, mas não merece aquele caminhão de indicações. É uma comédia romântica, com uma mensagem muito bonita, uma interpretação precisa dos atores e uma direção segura. Mas pára por aí. Não é pra tanto... mesmo!


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A caça à Bin Laden
A HORA MAIS ESCURA (Zero Dark Thirty / 2012) - Kathryn Bigelow é, de certa forma, uma diretora nova. Tem 61 anos e 9 filmes dirigidos. Premiada em 2008 com o Oscar de melhor diretor (a primeira mulher na história a levar a estatueta nesta categoria) por Guerra ao Terror, Kathryn se especializou por realizar filmes com forte visão política. Mas nem sempre foi assim. Ela já fez terror trash (Quando Chega a Escuridão / 1987), policiais (Jogo Perverso / 1989), passando até por alguns clássicos dos anos 80, como Os Caçadores de Emoção.

"Caçadores de Emoção"...
... e sua diretora em ação à época

Toda essa bagagem deu a Kathryn muita versatilidade até se encaixar no mercado e encontrar naquele tipo de filme que ela era realmente boa. E aí chegamos a este A Hora Mais Escura, que trata da busca por Osama Bin Laden.

Tentando se destacar em um ambiente dominado pelos homens

Jessica Chastain (que esteve ótima em Histórias Cruzadas) faz uma novata da CIA que é enviada ao Afeganistão para ajudar na busca do terrorista. Logo de cara ela se vê testemunhando sessões de tortura a um presidiário com contatos no Al-Qaeda. Ela assiste tudo.O torturado dá boas informações sobre outros contatos que podem levar ao inimigo número 1 da América. Anos se passam e com afinco ela se especializa nos nomes e locais da região do Oriente Médio por onde passam ou passaram pessoas envolvidas com o terrorista. Se passam 12 anos e os planos dela se tornam mais eficientes. Quando todos abandonam a busca, quase que dando como perdida, ela se foca em uma pista quase mínima - uma fortaleza escondida que pode ou não ser o paradeiro não de um dos terroristas do Al-Qaeda, mas do próprio Bin Laden em pessoa. Todos desconfiam e a chamam de louca, ainda mais em um ambiente dominado por engravatados, mas ela insiste na sua pista. A meia hora final é eletrizante, acompanha como um documentário a saga da equipe especial empreendendo uma invasão à noite na fortaleza no meio do Afeganistão e matando cada um dos homens nela. Se Bin Laden está no meio destes mortos só assistindo para saber.

Equipe pronta para invadir a fortaleza

É muito claro a divisão deste "longo longa" em 3 partes. A violência do interrogatório que serve como base para que a novata personagem da ótima, mas forçada Chastain se desenvolva na sua carreira na CIA. A segunda com um forte tom político, o que pode se arrastar um pouco e criar uma certa barriga. E a terceira à lá Counter Strike traz muita adrenalina.

Chastain vivendo uma agente da CIA obcecada por achar Bin Laden

A Hora Mais Escura é conduzido com muita segurança por Kathryn, mas que após o sucesso de Guerra ao Terror parece se preocupar apenas com filmes políticos e que se baseiem em dramas de guerra do seu país. É um caminho que ela escolheu, mas que já a marcou. O filme é sim eficaz e funciona muito bem, mas apenas como propaganda nacionalista. Não há como duvidar do forte apelo junto aos patrióticos norte-americanos e sua busca ao seu inimigo número 1. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um exército de zumbis

MEU NAMORADO É UM ZUMBI (Warm Bodies / 2013) - Não é fácil assistir um filme desses. Bem, na verdade se você conseguir desligar o cérebro até que vai curtir, se divertir aqui e ali. O problema é esse - quando você não precisa pensar ou revisitar sua bagagem cinematográfica para assistir a um filme. Porque aí você começa a se questionar sobre a valia dos grandes criadores de filmes e personagens de terror do cinema. Cito aqui George Romero, por exemplo, o pai dos zumbis. Não dá para levar numa boa um filme como esse sabendo como são os zumbis de verdade. Você se sente como se assistisse a criatura sendo jogada contra o criador. É muito estranho.

Os zumbis de George Romero...


... e o zumbi principal de "Meu Namorado é um Zumbi"

De qualquer forma é bom que se saiba que para assistir Meu Namorado É um Zumbi você precisa se privar de toda a sua bagagem de filmes de terror e se deixar levar pelo absurdo da história. De qualquer forma a trama se baseia em R (Nicholas Hout - o menino de Um Grande Garoto), um zombie que conta a sua história. Ele vive em um aeroporto junto com outras centenas de zumbis zanzando para lá e para cá. A humanidade em menor número se trancou em uma fortaleza protegida por enormes muralhas. Os zumbis, liderado por R, seguem para a cidade para buscar comida - cérebros humanos. A inovação no roteiro do também diretor Jonathan Levine (baseado no livro de Isaac Marion - Sangue Quente) está no fato que quando come um cérebro o zumbi assimila as memórias daquela pessoa. R mata e come o cérebro de um rapaz e se apaixona perdidamente pela namorada do mesmo, que ainda estava por ali. R então, convence a menina a se fingir de morta (?) para que os outros zumbis não a comam e a convence (?) a ir com ele até o aeroporto para que ele cuide dela (?).

R salvando sua "namorada"

Tudo é muito estranho, porque afinal de contas o R pensa! E fala (balbuciando, mas fala)! Corre e abre portas, raciocina... enfim, é melhor parar por aqui e continuar com a história.

M e R "conversando"

A "relação" dos dois se estreita até que o coração dele volta a bater, isso provoca uma reação em cadeia fazendo com que todos os zumbis voltem a buscar boas memórias e aí seus corações voltam a bater. O amor do estranho casal traz R e todos os zumbis de volta à vida. Dessa forma eles passam a se organizar para que, junto com os humanos, possam derrotar os esqueletos, uma raça superior.

O casal

Como paródia Meu Namorado É um Zumbi funciona bem. É bem acabado e até diverte em alguns momentos. Mas eu não consigo desvincular o fato de que os zumbis aqui pensam e agem como nós, apenas apresentam problemas motores, digamos. Um insulto, nada mais.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Para ele tudo é simples

CELEBRIDADES (Celebrity / 1998) - Woody Allen é um diretor que não tem medo de arriscar. Ele é tão premiado e respeitado no meio do cinema que ele se permite fazer qualquer tipo de filme. Os estúdios aceitam na hora, os atores não pensam duas vezes ao receber um convite dele, porque todos sabem que de um filme do Woody Allen sempre se pode esperar algo mais, algo diferente.

Theron incorpora modelo em Celebridades

Em Celebridades, totalmente feito em preto e branco, Woody coloca em xeque a postura de figuras importantes da mídia, do entretenimento, revelando o que já sabemos mas nunca vemos - celebridades envolvidas com drogas, viciadas em sexo, com ego gigante e acima de tudo problemáticas.

Celebridades de fama fácil

Melanie Griffith, Leonardo DiCaprio (recém Titanic), Charlize Theron, Winona Ryder, entre outros vivem as celebridades do longa, enquanto o casal Kenneth Branagh e Judy Davis são as pessoas digamos "comuns" no meio dos famosos. Eles formam um casal que vive uma vida diferente um do outro e acaba por se separar de comum acordo. O filme acompanha as desventuras dos dois, cada um na sua área, na relação com famosos ou na busca por se tornar famoso. Ele termina como um escritor ainda em busca do seu grande livro e ela sobe meteoricamente na carreira e termina como uma famosa apresentadora de um talk show.

Judy Davis tomando aulas com uma prostituta

O interessante é que tanto Branagh quanto Davis possuem papéis que se invertem durante o filme. No começo ele é seguro, deslumbrado com a fama que almeja, cheio de expectativas com relação a seu futuro, enquanto ela não espera nada, vivendo à sombra dele, perdida na vida. Os rumos das suas carreiras após a separação leva a uma total inversão de papéis no final de Celebridades. Ela passa a ser segura e confiante, ele passa a patinar, perdido na vida.

Melanie Griffith e Kennet Branagh 

Todo filme do Woody Allen tem um Woody Allen em cena, mesmo que não seja ele próprio atuando. Em Celebridades o personagem neurótico do Woody é encarnado pelo casal principal - Branagh e Davis são Woody, incorporando inclusive alguns tiques dele, como o gaguejo, a gesticulação constante, os ombros arqueados e o olhar pro chão. Aliás procure! É difícil assistir um filme do Woody Allen sem ter um personagem assim.

Branagh e Winona

Celebridades não é o melhor do Woody, não entra nem na minha lista dos 10 mais do diretor, mas cumpre seu papel - é engraçado e divertido em alguns momentos, principalmente com as críticas que faz às celebridades instantâneas e a forma como algumas delas tratam as pessoas à sua volta e até mesmo às pessoas que elevam outras desconhecidas à fama.
A mansão Bates
PSICOSE (Psycho / 1960) - Nada como uma boa montagem, uma trilha assustadora e um diretor que sabe como conduzir seus próprios atores ao medo. Robert Bloch escreveu o livro e cedeu os direitos a Hitchcock por "apenas" 9 mil dólares. Tentando preservar as surpresas do final do filme Hitchcock passava de livraria em livraria e comprava o maior número de cópias do livro possível.

A capa do livro

Hitchcock apostara muitas das suas fichas naquela obra. Estudou cada uma das cenas e minuciosamente criou cada uma das suas excentricidades. Realizou, por exemplo, trocas de lentes na cena do close no chuveiro para que a água passasse pela câmera e pudesse fazer o zoom in nela; decidiu por filmar Psicose todo em preto e branco por acreditar que as cenas de sangue seriam muito chocante para o público. O uso de instrumentos musicais desafinados propositadamente (principalmente violino), criaram o som perfeito para a trilha de Psicose. São muitas histórias quer ajudam a fazer de Psicose um dos maiores suspenses da história do cinema. Alguém duvida?

Suspense é com esse cara aí

Ao se assistir hoje o longa pode parecer meio ultrapassado e por vezes simplório ou mesmo ingênuo em alguns aspectos. É bom que se saiba que falamos de 1960 e muitas das escolhas e caminhos dos roteiros, destinos dos personagens eram inovadores para a época. O que se vê em filmes de terror e suspense de hoje bebeu muito na fonte de Hitchcock, e também em Psicose, é claro.

O uso de sombras, uma constante em Psicose

Janet Leigh faz o papel da mocinha (Marion) que trabalha numa imobiliária e se vê com 40 mil dólares nas mãos (um dinheirão pra época) fruto da compra de um terreno por um endinheirado da região. Ela decide então fugir com o dinheiro ao invés de depositá-lo no banco. Marion troca de carro, pega a estrada, até chegar a um motel afastado. Sem hóspedes e com uma mansão assustadora nos fundos, o motel tem em Anthony Perkins, que vive Norman Bates, e sua mãe como donos. O rapaz vive para cuidar da sua mãe, do motel e de empalhar pássaros, seu principal hobby.

Norman Bates e seus pássaros empalhados

Logo de cara, com pouco mais de 30 minutos passados do filme já acontece a primeira grande surpresa, com a clássica cena do chuveiro, a morte de Marion a facadas, a protagonista morta. Bates, calmamente aparece no banheiro pouco depois e sem emitir qualquer som limpa toda sujeira, o sangue e arrasta o corpo de Marion para um pântano nos fundos do terreno. Hitchcock parece se divertir com essa sequência, pois mostra nos mais pequenos detalhes a ação de Bates e seu apreço em limpar com cuidado cada mancha de sangue deixado na banheira. Uma sequência primorosa.

Surpresa! A morte da protagonista com pouco mais de 30 minutos de projeção

O que parecia ser um filme sobre a tentativa de Marion de fugir com um dinheiro que não lhe pertence se transforma em um filme de investigação com a confirmação do desaparecimento da menina. O que lhe acontecera? Que motel era aquele? E o casarão da família Bates? Nada passa sem resposta.

Anthony Perkins imortalizado no doentio Norman Bates

A genialidade de Hitchcock está em transformar uma história simples em um thriller, fazendo uso de pequenos recursos como uma trilha forte e uma montagem pra lá de eficaz. Quer um exemplo? Uma simples caminhada de uma das personagens até a entrada do casarão. A trilha cresce conforme seus passos vão se aproximando do casarão, cortes cada vez mais rápidos e planos cada vez mais fechados, culminando na maçaneta do casarão que se abre. Uma sequência simples, curta, mas que se estendeu com a trilha e se tornou símbolo de um filme que está entre os grandes, comandando por um diretor, que do gênero suspense, é o maior nome.

     

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

BULLITT (1968) - Um ícone do cinema, mais do que isso, uma lenda. Steve McQueen entrou para a história pelos filmes que estrelou - Inferno na Torre, As 24 horas de Le Mans, Papillon - e pelas nominações ao Oscar e Globo de Ouro. Mais do que isso. Um ator respeitado e admirado pelos homens e ao mesmo tempo cobiçado pelas mulheres. O apelido "the king of cool" não vem à toa. Apaixonado por carros e motos, Steve McQueen dispensava dublês nas cenas de ação dos seus filmes e gostava de velocidade, corria nas horas vagas. A morte prematura aos 50 anos só ajudou a fortalecê-lo no posto de mito.

Steve :McQueen em "Bullitt"

Tão mítico quanto vários de seus personagens, entre eles Frank Bullitt. Bullitt é um filme policial de 1968 dirigido por Peter Yates que conta a história de dois policiais que trabalham no departamento de proteção à testemunha e travam um duelo particular quando a testemunha é assassinada em circunstâncias estranhas. O outro policial trabalha em equipe, Bullitt trabalha sozinho. Ele usa apenas o seu instinto, o seu faro policial e apenas saca a arma na penúltima cena do filme.

McQueen guiando e atuando

Falando em cena., Bullitt ficou famosa por uma sequência de praticamente 8 minutos de uma perseguição de carros - Dodge Charger e um Ford Mustang 390 GT - descendo pelas ruas de São Francisco. Entendo tanto de carros quanto entendo de física quântica, mas são duas máquinas muito potentes. E isso fica mais evidenciado pelo escolha de Yates ao deixar apenas o ronco dos dois motores sonorizem a perseguição que, repito, chega a quase 8 minutos. É algo, como direi... magnífico. 

Lado a lado - Charger x GT

E McQueen fica o tempo todo atrás do volante, já que como disse acima, ele dispensa dublês. E o dublê que dirigia o outro carro ganhou um papel no filme, assim Yates pode filmar toda a cena sem se preocupar com mostrar os pilotos, já que os atores eram os próprios pilotos. É espetacular!

McQueen no volante

O filme é bom, um policial à moda antiga, bem noir. Mas não há como esconder o filme vale pela sequência de perseguição. É como Cantando na Chuva - desde o começo você assiste o filme esperando pela famosa cena, que você sabe que vai acontecer - e depois que ela passa até os créditos finais você não consegue tirá-la da cabeça! Aí depois que você assistir Bullitt e alguém te perguntar: "Você já assistiu Bullitt?" Com certeza você vai responder: "Ah, aquele da perseguição de carros por São Francisco? Já..." Aposto. 
Dá uma assistida abaixo:


Curtiu?!
Se você é, assim como eu, muito fã do cinema da década de 70 e goste de alguns "chasing-car movies", segue alguns clássicos imperdíveis:
- Corrida Contra o Destino (Vanishing Point / 1971)
- Fuga Alucinada (Dirty Marry Crazy Larry / 1974)
- À Prova de Morte (Death Proof / 2007) 
Woody dirigindo em Roma
PARA ROMA COM AMOR (Or. To Rome With Love / 2012) - Na sua busca por homenagear suas cidades europeias favoritas, Woody Allen chega finalmente à Roma. Já passou por Barcelona (Vicky Cristina Barcelona) e Paris (Meia-noite em Paris). Só que neste Para Roma com Amor uma característica o diferencia, além é claro da cidade, digamos "sede". Ele é um filme de contos, diferente dos outros que possuem uma história apenas. Para Roma com Amor se destaca, na minha opinião, como o mais fraco dos três.

Depois de "Barcelona", Penélope se junta a Woody em "Roma"

Em Vicky Cristina Barcelona a cidade é vista como um lugar de imensa paixão, "caliente", tórrida e sexy com um triângulo amoroso. Meia-noite em Paris retrata a cidade-luz como um lugar mágico que respira em cada esquina um pouco a inspiração que cada artista já viu nela. Ao final de Para Roma com Amor fica a dúvida: que imagem Woody Allen quis passar de Roma, afinal? Isso não ficou muito claro. Se perdeu, como quase sempre acontece em um filme episódico, de contos.

Woody, sempre genial nas suas neuroses

São 4 as histórias aqui que se intercalam, não há uma claquete com um sub-título separando-as (menos mal). Em uma delas um jovem casal vindo do interior da Itália chega à Roma e planeja tentar a vida por ali. A moça se perde ao caminhar sozinha pelo centro da cidade e acaba encontrando um ator famoso, que está filmando algo na região. Eles saem para jantar e acabam em um quarto de hotel. Já o seu namorado, recebe em seu quarto a visita de uma prostituta de luxo (Penélope Cruz) e acaba levando-a para um encontro com a família da moça. Tudo dá errado, é claro.

O casal do interior chegando à Roma

Em outra, uma crítica às pessoas que são alçadas à fama por nós, consumidores de informação. Roberto Benigni é um pai de família que da noite para o dia se torna famoso, passa a ser perseguido por paparazzi e não encontra sossego em lugar algum. Se envolve em escândalos e tem que lidar com o assédio, cada vez mais frequente. Até que um dia a sua fama vai embora do nada, do mesmo jeito que veio, e ele se sente aliviado. Ou será que não?

Benigni fugindo dos paparazzi

Em outra, Woody vive um pai que voa dos EUA para Roma para conhecer a família do futuro genro.Ele se encanta com a voz de tenor que o pai do cara tem quando este vai tomar banho. Rapidamente, Woody tenta convencê-lo a faze um teste para não desperdiçar uma voz tão bela. Eles descobrem que a voz do cara só é boa quando ele canta debaixo do chuveiro. Woody então não tem dúvida. Instala um chuveiro no centro do palco e de lá o cara canta a sua ópera. É engraçado, mais pelo Woody e suas neuroses.

O "tenor" debaixo do chuveiro

Pra fechar o melhor conto pra mim. Alec Baldwin passeia pelo centro da cidade, onde morara ainda quando era adolescente. Lá ele encontra a si mesmo e começa a passear pelos lugares por onde esteve e se lembrar das pessoas que conheceu e dos amigos que fez. O melhor é que ele interage com essas pessoas, fala com elas, como se pudesse dar conselho a si mesmo quando jovem. Uma ideia tão simples e tão boa.

Baldwin "se vê" mais jovem e se dá conselhos

O filme é bom, sim! Interessante, inteligente, funciona como um ótimo cartão-postal em vídeo, mas... fica abaixo de muitos outros filmes do Woody, até mesmo Vicky Cristina Barcelona e Meia-noite em Paris (principalmente este último). Mas só por ser do Woody, e isso eu digo sem medo, Para Roma com Amor já larga com 7, mas passa longe da nota 10. 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013



2 COELHOS (2012) - Afonso Poyart. Quem é esse cara? Estreou no cinema em 2005 com o curta "Eu Te Darei  Céu" que pode ser visto na íntegra no site porta curtas (http://portacurtas.org.br/filme/?name=eu_te_darei_o_ceu). Em 18 minutos, Afonso conta a história de uma solteirona que na noite do seu aniversário recebe das amigas um garoto de programa de presente. Toda história se passa na casa da solteirona e mescla depoimentos dos dois com cenas e um único flashback. No curta, premiado com 4 kikitos, Afonso já faz uso de uma edição nervosa, cheia de cortes e planos mirabolantes com trucagens que compensam o fato do curta possuir apenas 1 cenário e 2 personagens. O curta realmente é muito bom, mérito total dele!

São Paulo como pano de fundo para "2 Coelhos"

O próximo passo de Afonso foi bolar uma história mirabolante envolvendo um rapaz que se envolveu em um acidente de carro ao lado da namorada, o que resultou em dois inocentes mortos. O pai do rapaz é dono de um restaurante e empregou por pena, outro rapaz, que tinha relação com os dois mortos no acidente. A namorada é casada com um promotor público e juntos eles representam um ladrão de alto calibre que está aguardando receber uma grana preta, 2 milhões de dólares, em troca de favores a um importante deputado estadual. Edgar, decide por um fim nisso tudo ao bolar um plano mirabolante ao matar 2 Coelhos com um tiro só, ou seja, o bandidão junto com sua gangue e o deputado corrupto. Parece confuso, e realmente é um pouco. Caco Ciocler e a sempre bela Alessandra Negrini estrelam essa pra lá de rocambolesca história.

Alessandra Negrini, interpreta "Julia"

Em 2 Coelhos tudo é muito videoclíptico, agressivo. O tempo todo. Tem sequências que ficam na cabeça, que marcam pela beleza, como o uso de slow motion, usando na sequência final na explosão de um carro.

Bom uso do slow contribui para a beleza de algumas sequências de 2 Coelhos

Os gráficos que a princípio só irritam e parecem ser exagerados com o tempo se mostram como parte integrante da trama e do estilo do próprio diretor. No começo todos aqueles efeitos gráficos me pareceram desculpas para um roteiro fraco e cheio de furos. Ledo engano. Apesar de alguns furos, bem claros por sinal, o filme se mostra interessante cada vez que se aproxima do clímax. Alguns personagens trocam de lados durante o filme e se mostram até mais importantes para a trama do que pareciam no começo.

Caco Ciocler em papel secundário, mas fundamental para a trama

Heitor Dália, Marcelo Gomes e Selton Mello já se estabeleceram como bons diretores da nova safra do cinema nacional. Fiquemos de olho então em Afonso Poyart, será que ele entra para essa lista? 

domingo, 10 de fevereiro de 2013



PURA ADRENALINA (Or. Bottle Rocket / 1996) - É bom que se saiba logo de cara que Pura Adrenalina é um filme feito para TV, de 1994. Era um curta metragem de 13 minutos que contava as aventuras de três amigos em busca do grande golpe que mudaria para sempre suas vidas. O jovem Wes Anderson gostou tanto da experiência que decidiu fazer daquele curta no seu primeiro longa metragem adicionando novos personagens e elementos para enriquecer a trama. Assim nasceu, 2 anos depois, Pura Adrenalina.

Os irmãos Wilson

Conta a história de Anthony e Dignan (Luke Wilson e Owen Wilson) dois amigos que tentam um grande roubo para conseguir uma grana e mudar de vida. Dignan é o mais focado da dupla, sempre arquiteta cada plano de forma intensa. Anthony sabe que aquilo é errado e só acompanha Dignan por ainda o considerar como grande amigo. Ao lado de Bob, o piloto de fuga que sofre de déficit de atenção, eles alcançam até certo sucesso em roubos pequenos. O grande objetivo de Dignan é surpreender Mr. Henry (James Caan), seu ex-chefe. Entre trapalhadas e roubos, Anthony se apaixona por uma camareira paraguaia que trabalha em um deses hotéis de estrada, o que o deixa ainda mais em dúvida com relação ao seu futuro no plano.

O trio executando o "plano perfeito"

Owen Wilson estreou como ator nesse longa e escreveu a história junto com Anderson, que se orgulha que sua primeira obra tenha sido escolhida por Martin Scorsese como uma das suas favoritas da década de 90. É mole?


Aqui, Anderson ainda não tinha se desenvolvido como cineasta, então há pouco o que se ver dele por aqui., nada de personagens complicados, neuróticos, planos estáticos ou as sequências em slow motion, todas essas suas assinaturas. Pura Adrenalina, na verdade é um filme bem fraco, sem grandes atrativos e com um roteiro até certo ponto primário. Tem uma bandeira da Colômbia no quarto da camareira paraguaia sem qualquer explicação - bizarro! Não vale o balde, muito menos a pipoca. Mesmo se estiver murcha.

O casal ao fundo e Dignan bolando novo plano