quarta-feira, 29 de maio de 2013



CORAÇÕES SUJOS (2011) - Vicente Amorim é austríaco de nascimento, mas brasileiro de coração. Passou quase toda sua infância entre Brasília e Rio de Janeiro. Desde sempre se interessou por cinema e começou a trabalhar ainda no final dos anos 80 como diretor de segunda unidade, que geralmente cuida das imagens de apoio, sem a utilização de atores. À cumbuca de Vicente Amorim junta-se algumas experiências como produtor. O caminho para assumir a cadeira de diretor era questão de tempo.

Vicente Amorim comanda equipe em São Paulo

O Caminho das Nuvens foi sua primeira experiência na direção de longas. O resultado não foi dos mais satisfatórios, não passou de um road movie raso. Cinco anos depois foi à Hollywood para dirigir O Homem Bom com Viggo Mortensen. E agora, três anos depois, ele entrega este Corações Sujos, baseado no livro homônimo de 2000 escrito pelo jornalista Fernando Morais.

O livro de Fernando Morais que originou o longa

A história, real, se passa em 1946/1947 no interior de São Paulo. Há uma comunidade cada vez mais crescente de japoneses que estão migrando para o Brasil para fugir dos horrores da segunda guerra mundial e eles começam a implantar por aqui uma espécie de filial da sua própria nação. Tudo é veementemente proibido pelas autoridades brasileiras que enxergam o Japão como uma nação inimiga, por ter se aliado aos países do eixo.

Os brasileiros veem os japoneses como inimigos

A guerra já acabou, o Japão se rendeu incondicionalmente devido às duas bombas atômicas jogadas em seu território. O fim da guerra e a derrota do Japão é noticiada na comunidade japonesa em São Paulo, mas ninguém acredita, todos pensam se tratar de uma armação dos brasileiros. O orgulho japonês fala mais alto. Seus líderes, principalmente o coronel Watanabe, iniciam um movimento de matar qualquer japonês que tome por verdade o que o governo brasileiro diz. Segundo Watanabe "o Japão nunca perdeu uma guerra e o japonês que diz o contrário não passa de um traidor, não passa de um coração sujo".

Os japoneses em busca dos "corações sujos"

Uma matança sem precedentes começa na comunidade e as autoridades brasileiras, comandadas pelo delegado vivido por Eduardo Moscovis, investiga sem muito sucesso.

O delegado no comando das investigações

Todo o filme é belíssimo. A história, assustadoramente real, é conduzida de forma firme por Vicente, apesar das dificuldades do idioma. Sem medo de errar, afirmo que 90% do filme é falado em japonês. E 99% dos atores japoneses são japoneses mesmo, por isso Vicente faz o uso constante de intérprete durante as filmagens.

O orgulho japonês posto à prova no interior de São Paulo

O que poderia ser um empecilho, no final acabou ajudando. Os atores se entregaram à história com muito afinco, como se tivessem orgulhoso de representarem papéis dos seus antepassados. A própria linguagem de todo o longa acaba se inspirando nos grandes filmes japoneses e acaba por empresar toda a delicadeza e a sensibilidade oriental. Corações Sujos é uma obra de arte.

Planos e interpretações inspiradas marcam Corações Sujos

Orgulho é a palavra que permeia toda a história de Corações Sujos. Orgulho dos japoneses por se entregarem à história que conta a formação da maior comunidade fora de seu país. E orgulho nosso por ver um resultado tão satisfatório, certamente um dos filmes mais belos que o cinema nacional já produziu.
Veja abaixo o trailer de Corações Sujos:


domingo, 26 de maio de 2013

A MORTE DO DEMÔNIO (Evil Dead / 2013) - Não é sempre, mas os remakes não costumam ser vistos com bons olhos. Em alguns casos específicos, de filmes muito adorados, com fãs fervorosos um remake acaba se tornando algo odiado, simplesmente pelo fato de ser feito. Geralmente eles acabam sendo criticados muito antes do lançamento, porque as informações que costumam vazar na internet indicando mudanças em relação ao original podem destruir um projeto todo. Vide o nosso José Padilha que tem sido bombardeado pelos amantes de Robocop por mudar a cor da armadura do policial do futuro e ter criado carros e motos que não são futuristas como deveriam ser.

Ash em 1981

Para você que não conhece vai uma pequena explicação sobre A Morte do Demônio. O original de 1981 foi uma criação amalucada de uns moleques apaixonados por cinema. Cada um tinha pouco menos de 20 anos quando se envolveu no projeto. Sam Raimi dirigiu, Bruce Campbell produziu e estrelou o filme. E foi um sucesso. A razão? Uma mistura escrachada de sangue, tripas e outras nojeiras com situações inusitadas, frases de efeito e um herói com cara de assustado. Ao mesmo tempo que enojava divertia. Nascia ali o gênero "terrir".


Ash wants you
O filme gerou duas sequências e Raimi se entregou ao cinemão comandando entre outros a trilogia do Homem-Aranha com Tobey Maguire. Em 2009 ele voltou àquilo que foi a sua origem, ao gênero que o alçoou ao lançar o ótimo Arraste-me Para o Inferno.

Campbell e Raimi em 1981

Fede Alvarez é novo, tem pouco menos de 35 anos de idade, tinha apenas 3 quando A Morte do Demônio original foi lançado. O diretor uruguaio dirigiu alguns curtas metragens antes de ser cogitado para assumir a cadeira do remake de A Morte do Demônio. El Cojonudo (2005) e Ataque de Pánico (2009) ambos disponíveis para assistir abaixo, elevaram o nome de Fede a outra patamar.



E foi assim. Uma noite ele estava sentado em caso finalizando uma de suas criações, na outra estava ao lado de Sam Raimi e Bruce Campbell discutindo um roteiro de 30 milhões de dólares, aquele que viria ser o remake do clássico da dupla Raimi-Campbell de 1981.

Bruce-Ash-Campbell de vermelho e Fede no lançamento do remake

A escolha se mostrou certa. Mesmo entre os mais ferrenhos fãs da série é difícil encontrar aqueles que não se empolgam a ver esse remake. A questão aqui não é copiar o original, revivê-lo em cada corte (como Gus Van Sant fez em 1998 com Psicose de Hitchcock), e sim homenageá-lo e Fede fez isso à altura.

Fede remontando um clássico

O roteiro escrito por Fede Rodriguez e Rodo Sayaguez e revisado por Diablo Cody (que escreveu Juno) gira em torno de 5 amigos (David, Eric, Mia, Olivia e Natalie, suas iniciais formam juntas "DEMON") que chegam a uma cabana no meio da floresta tentando fazer com que a viciada Mia seja curada da sua dependência das drogas.

Os amigos chegando a cabana

Em um rápido flashback inicial vemos uma menina aprisionada no porão da cabana e em ritual de magia negra, ela se mostra possuída pelo demônio e acaba queimada em um toco de madeira. Há um livro, "Book of the Dead", que possui umas palavras num idioma antigo que são recitadas no momento do sacrifício.

Book of the Dead

Voltamos ao tempos atuais. Mesma cabana. Curiosos sempre se dão mal em filmes de terror. Um dos caras acha o tal livro e começa a lê-lo, em alguns momentos em voz alta. Naquele momento ele "libera" algo. E surge a primeira "Sam-o-cam", invenção de Raimi e usada no original de 1981. A câmera desliza pela floresta em alta velocidade com um rangido e atinge a cabana. É o mal chegando, o demônio a atingir o grupo, um por um.

Sam-o-cam

Numa tentativa de fugir de lá, Mia corre pela floresta e se enrosca em uma complicada rede de cipós e galhos secos. Sua roupa é rasgada e ela acaba estuprada pelos galhos recebendo em seu corpo o demônio. Um vômito negro é expelido, a primeira nojeira de A Morte do Demônio.

No arbusto seco o primeiro contato

Ao voltar pra cabana, Mia se tranca no quarto. Seu irmão vai conversar e ela sussurra, assustadoramente, que precisa sair dali. A iluminação e o seu olhar assustam, talvez o único momento de medo do filme (pelo menos para mim). Todos encaram aquilo como mais um devaneio de uma menina que só quer voltar a se drogar. Pouco a pouco eles iam perceber que ali tinha algo de errado.

Tem algo de errado nesta cabana

A noite ela se transforma no tal demônio na frente de todos, a voz cavernosa diz que dali nenhum irá sobreviver. Mia é jogada e acorrentada no porão. Vez por outra ela aparece e continua a provocar e assustar os seus amigos.

Mia, possuída, presa no porão

Enfim, não dá para contar cena por cena. O que dá para dizer é que daí tudo só piora, o demônio entra no corpo de cada um deles, um por vez. Tem até uma homenagem a mãozinha de Ash (o herói do original) quando uma menina é obrigada a cerrar se próprio braço.

Faca elétrica para cortar o braço

O livro diz que uma das saídas para se livrar do demônio é desmembrar o corpo do possuído. Aí já viu... é um festival de sangue, bile, líquidos estranhos, gosmas, vômitos e tudo o que há de mais nojento. Nos cinemas alguns se contorcem e quem já conhece a série remonta a um atitude muito comum quando se assiste o clássico original: rir, rir muito!

Prepare o estômago

Ao todo mais de 70 mil galões de sangue falso são usados neste remake, são mais de 265 mil litros de sangue falso! 90% dele usado só na cena final. Que aliás é belíssima. Mia é a única sobrevivente e se defende do demônio sedento por sua alma. Ela foge e acaba pegando uma moto serra e a enfia bem no meio da cabeça do demônio, um plongé da câmera mostra a cabeça sendo cortada ao meio enquanto chove sangue por todos os lados. É realmente muito "bonito".  

O embate final

Mais uma coisa. AQUI NÃO TEM CGI!!! Ok, um pouquinho só aqui e ali. Fede exigiu que a maioria das cenas fosse feita inteira em estúdio e de forma "real", o que se vê aconteceu "mesmo" durante a gravação. É só mais um detalhe que mostra o quão preocupado o diretor estava por se envolver em um remake e por querer fazê-lo de forma fiel. Ele queria fazer jus à clássica história e acredite, se saiu muito bem. Uma homenagem de primeiro nível.

quarta-feira, 22 de maio de 2013


DIÁRIO DE UM JORNALISTA BÊBADO (The Rum Diary / 2011) - É interessante como alguns atores conduzem sua carreira. De longe e há tempos, Johnny Depp é um ator dos mais respeitados muito pelas escolhas excêntricas que faz para os papéis. Poucos se sentem tão à vontade flutuando em vários gêneros e fazendo papéis tão diferentes e aos mesmo tempo tão únicos.

Aron Eckhart também participa do "Diário de um Jornalista Bêbado"

Terror slasher, comédia pastelão, drama de época, romance meloso, fantasia cômica, stop motion, faroeste sangrento. Tudo com Depp em papel de destaque. Mas em uma carreira que está beirando os 30 anos nem tudo são vitórias. Alguns deslizes, embora raros, acontecem. Nos casos mais recentes posso citar O Libertino, Alice no País das Maravilhas, e este Diário de um Jornalista Bêbado.

Kemp (Depp) sendo confrontado pelo seu editor-chefe

A história aqui retrata Paul Kemp, jornalista que aceita um trabalho freelancer em um jornal de Porto Rico dos anos 60, que vivia sobre forte repressão política. Em duas horas acompanhamos as desventuras de Kemp e seu problema contínuo com a bebida, o que leva a se envolver em situações ainda piores.

No começo o filme se foca no jornalista, depois desbanca para coisa nenhuma

É interessante no começo do filme quando se acompanha a vida de um jornalista e uma redação em décadas onde computadores pessoais não existiam. Mas com o desenrolar o filme se perde. Abandona o dia-a-dia da redação e passa a viver o dia de Kemp, como o próprio nome do longa sugere. Bruce Robinson, o diretor e roteirista, ao lado de Hunter S. Thompson que também é autor do livro que baseou o longa, se mostra muito fraco no comando da história. Depp fica perdido, parece se contentar em reviver o capitão Jack Sparrow, só que sem as roupas de pirata.

Os três jornalistas desvendando Porto Rico
O filme perde a sua intenção em pouco tempo e os personagens coadjuvantes também não ajudam. No final você se pega torcendo contra Kemp e seus amigos, quando deveria ser o contrário. Depp tem crédito (e muitos), mas nem sempre sua carreira vive de boas escolhas.

Personagens distantes e nada carismáticos

sábado, 18 de maio de 2013

Todos ouvem a DR de Emma Stone e seu namorado

PARA MAIORES (Movie 43 / 2013) - Já é público e notório, pelo menos para quem tem costume em entrar aqui no meu blog, das minhas ressalvas com relação a filmes episódicos. São pouquíssimos filmes desse "gênero" (se é que podemos chamar isso de gênero) que me agradam, como Tudo o que Você Sempre quis Saber Sobre Sexo mas Tinha Medo de Perguntar (embora acho que só gosto desse por ser do Woody Allen, na verdade).

O namorado tenta atender o estranho pedido da namorada Anna Faris

Para Maiores segue essa linha de capítulos, pequenas esquetes reunindo grandes nomes. No caso aqui o elenco tem mesmo que ser mega estrelado para compensar toda a bobagem que será exibida nos torturantes   94 minutos que se seguem.

Hugh Jackman e seu "problema" de nascimento

Treze diretores e quase vinte roteiristas assinam se revezam na apresentação de cada uma das esquetes. O filme começa com três adolescentes que buscam um filme proibido na internet, o tal Movie 43, com a desculpa que ele mistura sexo, mulheres e muita diversão. Essa esquete é a espinha dorsal de toda a "trama", servindo para linkar as demais esquetes do filme.

Johnny Knoxville e seu presente de aniversário, um duende

Não vou aqui descrever esquete por esquete, mesmo porque não vale a pena de tão ruim que são. Mas só para dar uma ideia - Hugh Jackman faz um homem que nasceu com seus testículos presos ao pescoço, Anna Faris faz uma namorada que pede ao namorado que defeque nela (levando a um final, como você pode imaginar, de muito mal gosto), Naomi Watts e Jeremy Allen White tratam o filho como se ele estivesse no colégio, Emma Stone e Kiera Culkin discutem sua relação num supermercado perto do microfone para todos no local ouvirem, Justin Long e Uma Thurman se juntam numa ridícula esquete sobre super heróis, Chloë Grace Moretz vive uma adolescente em sua primeira menstruação em plena casa do namorado, Johnny Knoxville e o não menos bobo Seann Willian Scott comemoram o aniversário sequestrando um duende, Halle Berry e Stephen Merchant vão até o fim dos limites em um encontro às cegas, Terrence Howard faz um técnico de um time de negros de basquete antes de enfrentar um time de brancos e pra fechar uma animação absurdamente infeliz de um gato ciumento e seu dono.

Chloë na primeira menstruação, justamente na casa do namorado

Uma união de bobagens em minutos que teimam em demorar a passar. Não passe nem perto, evite a todo custo e não se deixe enganar pelo elenco estrelado. É uma bomba em todos os sentidos.

Halle Berry após "cirurgia plástica"

domingo, 12 de maio de 2013



O DITADOR (The Dictador / 2012) - Os personagens de Sacha Baron Cohen funcionam bem no formato de esquetes. A sua série na TV britânica no começo dos anos 2000 tendo como "apresentador" Ali G (Cohen na pele de um rapper) era divertida, seus personagens tinham espaço e faziam sucesso no formato curto. São personagens bons, mas alguns não sustentam um longa metragem. O mesmo problema acontece com os longas do Monty Phyton - Em Busca do Cálice Sagrado e A Vida de Brian - que são bons, mas para rir de verdade com esses ingleses o melhor é assistir a série - Monty Phyton´s Flying Circus, que fez sucesso na BBC na década de 70.

Ali G, um dos primeiros personagens de Cohen

Voltando a Cohen é bom que lhe dê créditos por Borat, por exemplo, que não há como negar - é um filme muito engraçado. E o simpático e sem noção jornalista do Cazaquistão sustenta facilmente as quase duas horas de película.

Em "Borat" o ponto alto da carreira do comediante

Na sequência Bruno tentou fazer sucesso na esteira de Borat, apostando na mesma fórmula - uma mistura de ficção e cenas supostamente reais, pegando reações verdadeiras das pessoas nas ruas. Bruno não funciona tão bem, Cohen pesou a mão aqui, passou um pouco do limite.

Passou dos limites em "Bruno"

Algumas participações de Sacha em filmes diversos como em Ricky Bobby, onde realmente rouba a cena, está muito engraçado, Sweeney Todd e A Invenção de Hugo Cabret, onde também vai bem fazendo uma espécie de comédia pastelão como agente da estação de trem.

Sacha está bom em "A Invenção de Hugo Cabret"

Em O Ditador, Sacha Baron Cohen volta a interpretar um personagem próprio. Como o título explicita trata-se de um ditador que governa um país imaginário e planeja um discurso na ONU para legitimar o seu poder e ganhar mais respeito internacionalmente. O problema é que ao chegar aos EUA (que parece ser o único destino de todos os personagens de Cohen) ele não tem vida fácil. Acaba traído pelo próprio responsável por sua guarda pessoal (Ben Kingsley) ao ser "substituído" por um sósia. Abandonado em um país desconhecido acaba encontrando ajuda com uma mulher, a ótima Anna Faris, que nem desconfia da sua real identidade.

Cohen e Faris em boa química

O Ditador tem os seus momentos - quando nos jogos olímpicos locais ele dispara tiros nos seus concorrentes, ou quando pede uma lata de lixo por ter feito o parto de uma menina e não um menino de um casal de desconhecidos - enfim, momentos nonsense de uma comédia que deixa muito a desejar.

São poucos os momentos engraçados. Esse é um deles.

Sacha Baron Cohen é um bom comediante e já fez coisa muito melhor. O filme é bem acabado, bem produzido e rende algumas risadas. Mas passa muito rápido, não por ser bom, mas pela própria não-profundidade do roteiro. Descartável.

Acenando em um filme sem graça
J. EDGAR (2012) - Leonardo diCaprio é sim um bom ator. Está longe de ser um dos grandes da história, talvez um dia frequente esta lista, mas é inegável a sua qualidade. Mas em alguns casos o personagem engole o ator. E aqui, claramente J. Edgar foi muito grande para diCaprio.

J. Edgar em uma de suas "investigações"

Clint Eastwood dirige essa biografia sobre o homem que criou o FBI, J. Edgar Hoover. É uma cinebiografia que segue a cartilha de outras tantas - pouco antes de morrer, em 1972, J. Edgar conta as suas memórias para um biógrafo que vai registrar e catalogar tudo em um livro. Dessa forma, o filme começa com um velho J. Edgar (maquiagem mal feita em diCaprio, diga-se de passagem) e as poucos vamos acompanhando as suas lembranças revisitando cada momento da sua vida pessoal e profissional.

Eastwood dirigindo DiCaprio

A reconstrução de época é ótima, muito bem feita. Mas convenhamos não poderia esperar outra coisa de um diretor tão cuidadoso como Clint Eatswood. O filme percorre as décadas e quando acaba, obviamente com a morte de J. Edgar, o que ficam são mais perguntas do que respostas.

O original e a cópia

Por se tratar de uma figura tão importante como J. Edgar, um diretor tão premiado quanto Eastwood e um ator (quase) de ponta como diCaprio, esperava-se algo melhor. Um filme melhor. Nada aqui sai do lugar comum. E como disse anteriormente, a maquiagem de diCaprio como J. Edgar velho, é muito ruim, dá pra ver em certas cenas o enchimento dele na barriga.

Maquiagem fraca

O filme explicita a relação homossexual de J. Edgar com seu braço direito Clyde Tolson, (vivido por Armie Hammer que também exibe péssima maquiagem quando fica mais velho), mas no fundo mostra um cara que não parece tão durão assim. Um J. Edgar inseguro, as vezes perdido, mais preocupado em passar uma imagem de força do que propriamente mostrar ter essa força (o que fica claro quando a sua secretária vivida por Naomi Watts, queima os arquivos pessoais de J. Edgar assim que ele morreu, como se ele tivesse algo a esconder. Será que tinha?).

J. Edgar e seu companheiro (não assumido)

No filme a relação se escancara
Um filme de sessão da tarde, insosso e às vezes arrastado. Não passa de um filme OK. Mr. Eastwood já entregou coisas bem melhores. 

domingo, 5 de maio de 2013

Aborto Elétrico e Plebe Rude

SOMOS TÃO JOVENS (2013) - O recorte do filme se dá entre os anos de 1976 e 1982. É um período curto porém agitado para a juventude de Brasília, formada em boa parte por filhos de magistrados, diplomatas, congressistas, ou seja, não dá para dizer que parte daquela turma não tinha um bom berço. Eles aprontavam sem medo, bebiam e fumavam, invadiam festas e quando eram parados em alguma blitz, logo eram liberados. Era uma carta branca constante.

O jovem Renato, no começo da história

Renato Manfredini (que depois virou Russo), professor de inglês, é vivido por Thiago Mendonça, em uma interpretação notável. Thiago está ótimo. Captou as afetações, os trejeitos, o gestual, tudo. A memória de Renato Russo está muito representada, toda ali.

Semelhança impressionante, principalmente nos números musicais

Renato Russo sempre se apresentava como líder da turma, porque tinha opiniões fortes, personalidade e conhecimento, adquirido pelo hábito constante da leitura. Gostava de enfiar uma palavra em inglês ou francês no meio das suas frases. Muito por conta dessa liderança ele acabava se afastando (ou sendo afastado) das pessoas que rodeava.

Renato com Aninha, amiga que inspirou Ainda É Cedo

Os seus outros colegas de turma retratados no filme são Fê Lemos e Flávio Lemos (que integraram o Aborto Elétrico, primeira banda de Renato), Herbert Vianna (vivido de forma caricata mas muito engraçada por Edu Moraes), Dinho Ouro Preto e os caras do Capital Inicial, mais os caras da Plebe Rude, e outros tantos. Somos Tão Jovens é um filme com um título muito feliz, pois é o retrato muito bem feito de toda a aquela jovem turma da colina, mas é claro, com ênfase maior em Renato Russo.

Renato, o grande líder daquela turma

A cena do momento é complicada. O país está sob ditadura, o cenário musical é escasso, eles tinham acesso a música através das fitas K7 que alguém trazia do exterior com Sex Pistols ou Siouxsie & The Banshees. O punk é a música do momento, a revolta dos rebeldes sem causa tem início.

Foto real do Aborto Elétrico com Renato, Fê e Flávio Lemos

Disso Renato forma com os irmãos Lemos o Aborto Elétrico que acaba depois de muitas brigas entre Renato e o baterista Fê Lemos, com Flávio o clima é de cordialidade porque o filme explicita uma paixonite não correspondida de Russo por Flávio. Depois de um período se apresentando sozinho com seu violão, ele conhece Marcelo Bonfá que era baterista de outra banda e juntos fazem alguns shows fora dali, já como Legião Urbana. Pouco depois entrou Dado Villa Lobos e o filme acaba aí, no momento em que o trio vai pro RJ para um concerto no Circo Voador e o resto é história.

Tocando Geração Coca-Cola, ainda com o Aborto Elétrico

O filme se apóia nas convincentes interpretações dos seus jovens atores, todos estão muito bem. Os números musicais também ajudam a levantar ainda mais o filme, como Geração Coca-Cola (um autêntico show punk), Química (que gerou a briga mais feia entre ele e Fê Lemos), Eduardo e Mônica (composta em homenagem a Dinho e uma namorada), e Ainda É Cedo, em um momento que fica difícil segurar as lágrimas.

Mesmo jovem Renato já apresentava as dúvidas que iriam lhe perturbar para o resto da sua vida

Ponto para o diretor Antônio Carlos de Fontoura que em nome da perfeição exigiu que as músicas fossem tocadas pelos próprios atores. Thiago Mendonça teve que aprender a tocar violão e cantar cada uma das canções. Thiago foi especialmente bem, é impossível não se lembrar de Renato Russo ao ver aquele cara no palco de barba e óculos cantando ao violão. Pra quem gosta é muita emoção.

Renato Russo e Thiago Mendonça

Somos Tão Jovens é um ótimo filme para quem gosta da música nacional daquele período e é claro, Legião Urbana e Renato Russo.