segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SALÓ OU 120 DIAS DE SODOMA (1975)

Como cachorro, o ser humano descartável, aos olhos de 4 fascistas

SALÓ OU 120 DIAS DE SODOMA (Salo o le 120 Giornate di Sodoma) - 1944, a Itália é um país dominado por nazifascistas. E na cidade de Saló, jovens são sequestrados e mandandos para um castelo afastado. Lá conhecem 4 ricos e entediados nazifascistas, os mandantes dos sequestros. Eles não tem nomes, apenas são chamados por apelidos - o bispo, o duque, o magistrado e o presidente. Cercados por homens armados, os jovens ouvem como será sua nova vida dali para frente: "vocês estão aqui para satisfazer os nossos prazeres, ninguém lá fora sabe que vocês estão aqui, para o mundo externo é como se vocês já estivessem mortos".

Os 4 facistas - o bispo, o duque, o magistrado e o presidente

O longa do italiano Pier Paolo Pasolini é inspirado no livro de mesmo nome do Marquês de Sade e estará, sem dúvida, entre os filmes mais chocantes que você já assistiu e provavelmente irá assistir em toda a sua vida. São pouco menos de 2 horas, mas acredite, com cenas que você levará para sempre. Se você ainda tinha qualquer fé na humanidade, este filme te faz perder a total certeza de que o homem ainda é passivo de concerto. Você fica angustiado, triste, envergonhado e ao final enojado. Não é exagero.

Nudez, nada sensual, pontua o filme de fora a fora

Para suavizar, os créditos iniciais são exibidos em tela branca com uma fonte erudita e uma valsa que beira o cômico ao fundo, levemente lembra as aberturas dos filmes de Woody Allen, embora o diretor americano use jazz. Depois de chegarem ao castelo a história se divide em três capítulos, o ciclo das manias, o ciclo da merda e o ciclo do sangue.

Torturas das mais escabrosas - quando é pesado, acredite, fica pior

Em cada um dos ciclos, uma senhora prostituta, tão libertina quanto os 4, conta as suas escabrosas experiências com riquezas de detalhes num enorme salão. Cada velho tem uma equipe de jovens e guardar amados consigo. Os jovens inertes ficam passíveis, o tempo todo. A senhora demonstra um prazer enorme ao fazer aquilo. Ao fundo uma moça toca um piano o que dá uma leveza à cena, em contraste com as histórias sempre pesadas. Mesmo assim estranhamente tudo se encaixa, desde as histórias fortes, a senhora de vestido longo de festa, as caras de contentamento e prazer dos 4 velhos, os jovens inertes e sem reação, e as paredes envelhecidas de um castelo que já viveu dias melhores.

Cada velho tem um "time" com jovens que usa para seu bel prazer, além de guardas armados para inibir os revoltos

O ciclo das manias trata sobre manias sexuais depravadas e a cada momento um dos 4 libertinos se levanta de súbito e arrasta um dos jovens para uma sala ao lado para se satisfazer. O ciclo seguinte, o da merda, faz relação entre sexo e escatologia de todos os tipos. O ponto máximo, você já deve imaginar, é um jantar de gala tendo como prato principal... você sabe. Aqui, a repugnância chega ao máximo.

Repugnante

O ciclo do sangue é o momento onde os jovens que não se encaixaram no plano de satisfazer os libertinos a qualquer custo são punidos com torturas físicas das mais intensas, com cenas fortíssimas que beiram o realismo. Acompanhamos tudo de longe, como voyeur, assim como cada libertino o faz por vez, vendo tudo por binóculos. Em nenhum momento ouvimos os gritos de dor dos torturados. Somos grosseiramente convidados a assistir passivamente aquele festival de horrores.

E ao final os que não se encaixaram no regime são descartados das formas mais desumanas

Uma valsa bonita e inocente, com a mesma trilha dos créditos iniciais, é tocada para encerrar o filme, enquanto dois jovens soldados dançam pela sala.

A valsa inocente e incoerente

Com Saló, Pasolini pretendia iniciar a sua trilogia da morte (já havia lançado a trilogia da vida com os filmes Decamerão, Os Contos de Canderbury e As Mil e Uma Noites), mas o diretor foi encontrado morto com o rosto desfigurado em condições até hoje inexplicáveis pouco depois de terminadas as gravações, Saló ainda não havia nem sido lançado.

Pasolini no set de Saló

Ao mesmo tempo que foi proibido, e ainda o é, em diversos países, Saló alcançou status de filme de arte, um estudo sobre a condição humana, e por Pasolini ter vivido muitos anos na Itália fascista, o filme ganhou um ar de crítica da sociedade, do quão ruim o ser humano pode ser, prova de que a maldade está em cada um de nós. Ninguém é totalmente bom ou completamente mal, esses dois sentimentos ficam adormecidos dentro de nós, se polarizando, de lado a lado.
Assista abaixo o trailer de Saló ou 120 Dias de Sodoma:

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