sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

STRAIGHT OUTTA COMPTON - A HISTÓRIA DO N.W.A. (2015)

Rappers em cima, atores embaixo

STRAIGHT OUTTA COMPTON - A HISTÓRIA DO N.W.A. (Straight Outta Compton / 2015) - "A banda mais perigosa do mundo". É assim que o N.W.A. se autodenominou desde o começo da sua trajetória na metade dos anos 80. Cinco amigos se juntaram para transformar em rap a realidade do subúrbio em que viviam na Califórnia. As batidas policiais sempre com abuso de autoridade e a rotina de drogas e violência moldou a mente destas pessoas que quase do dia para a noite se descobriram artistas.

O preconceito racial como rotina da banda

F. Gary Gray dirige a impressionante história. E não foi procurado à toa. Ele é especialista em videoclipes, tendo produzido e dirigido mais de trinta, inclusive alguns do Dr. Dre e Ice Cube - dois rappers que ajudaram a formar o N.W.A.. Eles também assinam a produção de Straight Outta Compton.

A produção e a gravação de grandes músicas do rap

Ice Cube é interpretado pelo seu filho O´Shea Jackson Jr., e é o maior acerto do filme. Ele está incrível, mostrando a força e a postura indignada e briguenta que o pai ajudou a traduzir em letras igualmente fortes. O pai - que fez Anaconda e outros trinta filmes - obteve sucesso em todos os ramos que atuou, como músico, produtor musical, produtor cinematográfico, diretor e roteirista.

Impressionante semelhança entre pai e filho

O filme mostra a relação de Ice Cube com Dr. Dre e Eazy-E, rappers criadores do chamado Gangsta Rap. Mas o N.W.A. só alcançaria o sucesso graças ao produtor musical Jerry Heller (interpretado por Paul Giamatti), um judeu que cheirou grana no estilo largado e agressivo do grupo. Se deu bem, levou os cinco rapazes à riqueza e fez a sua própria fortuna também.

O empresário que abriu as portas para o sucesso da banda

Todos ficaram ricos muito jovens e não souberam administrar tanta grana e poder repentino - festas na piscina com drogas e prostitutas - e com isso a briga interna foi inevitável. Ice Cube seguiu seu caminho, depois Dr. Dre e por fim Jerry Heller foi demitido. A banda mais perigosa do mundo durou de 1986 até 1991 (depois ressurgiu ainda em 2000 e de novo em 2015, mas sem o mesmo sucesso) e seu legado para o rap é inegável. Gerou muitas polêmicas e inaugurou um estilo que influenciou uma série de outros cantores.

A auto proclamada banda mais perigosa do mundo 
O filme tem muita força e uma reconstrução de época muito boa. Como todo filme baseado em uma história real beira os exageros, mas os seus personagens retratados em tela - pelo menos a maioria deles - estão vivos e com vasto material e videoclipes disponíveis na internet para compararmos os fatos do filme com a realidade. Juntar Dr. Dre, Ice Cube e a esposa do rapper Eazy-E na produção do longa foi um grande acerto, dá aquele gosto de homenagem bem feita e correta dos fatos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

MAGIA AO LUAR (2014)

"Estou tendo uma visão..."

MAGIA AO LUAR (Magic in the Moonlight / 2014) - Woody Allen continua sua saga pelos países europeus com Magia ao Luar e aposta em dois nomes com quem nunca tinha trabalhado antes para a sua comédia romântica da vez - a norte americana Emma Stone e o inglês Colin Firth.

Woody dirige a dupla

A história começa na Alemanha no final da década de vinte com uma plateia impressionada com o show do ilusionista Stanley (Firth). Ao final do show ele recebe no camarim um amigo de longa data, também ilusionista, que faz um convite. Quer que ele conheça uma jovem moça que diz ser uma médium com fortes poderes psíquicos. Stanley, com a certeza de que desmascará uma charlatã, aceita o convite na hora e juntos seguem para a França.

Stanley tem certeza de que encontrará uma charlatã

Eles chegam a um casarão de propriedade de uma senhora rica que perdeu o marido recentemente. Lá, a jovem Sophie (Stone) realiza sessões de contato com o espírito do marido, conversa com ele e a senhora rica fica cada vez mais encantada. E é justamente esse encantamento geral que deixa Stanley convicto de que Sophie não passa de uma farsa.

A jovem Sophie ao lado da mãe

Os dois se aproximam. Stanley quer a todo custo desmascarar Sophie, mas a princípio nada consegue. Apena passa a se encantar profundamente com o charme da moça. Ela revela detalhes íntimos da vida dele, da sua noiva, da sua família e da sua tia Wanessa. Seria ela uma médium de verdade? Tanta proximidade gera um sentimento em Sophie, mas Stanley - irredutível e pomposo como só ele - nega que sinta algo por ela. Esta comédia de Woody Allen não poderia ser um autêntico Woody Allen se não contasse com uma virada no roteiro... mas só assistindo pra ver.

A conexão com o mundo dos mortos, o desconfiado Stanley no fundo

Colin Firth mostra que tem tino pra comédia, dosa muito bem a irredutível segurança do seu personagem, com uma dose leve de insegurança em momentos críticos. Tudo é demonstrado por detalhes como o olhar que se abala ou o penteado que desmancha. Ótimo no papel, forçando um sotaque inglês (muito além do seu já natural), que agrega muito ao personagem, caindo como uma luva.

A aproximação

Emma Stone é um talento. Jovem e versátil, ela parece se encaixar muito bem em qualquer tipo de personagem - do drama à comédia. E mesmo tendo trinta anos a menos do que Firth e cinquenta a menos do que Woody ela não faz feio não. É engraçada, leve e tem tudo para se tornar uma nova musa para Allen. Magia ao Luar é um filme divertido e charmoso, talvez um pouco abaixo do que Woody costuma entregar, mas ainda assim é um Woody. E isso, convenhamos, conta e muito.
Veja abaixo o trailer de Magia ao Luar.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS (2016)

O poster

ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS (Rogue One: A Star Wars Story / 2016) - Já de cara aviso - VAI TER MUITO SPOILER! Se você foge desse tipo de coisa nos textos sobre filmes que tem por aí é melhor parar agora. 

SPOILERS

Os Rebeldes
Seguindo... Rogue One: Uma História Star Wars nasceu com a pretensão de ser o primeiro spin off, ou filme derivado, da maior saga do cinema. É um filme que preenche algumas lacunas da história original e ajuda a responder algumas perguntas que ficaram em aberto - por exemplo porque a gigantesca Estrela da Morte é destruída com apenas um tiro certeiro? E essa vai ser uma constante depois que Star Wars foi comprado pela Disney - a cada ano teremos um novo filme da saga ou um spin off. Tudo isso pelo menos até 2019 - quando sai o episódio IX. Aguardemos.

Krennic e seus Deathtroopers

Rogue One se passa entre os episódios III e IV e conta a história de Jyn (Felicity Jones) - uma menina que presencia a morte da mãe e o sequestro do pai pelas mãos de Krennic, o homem por trás da maior arma do Império, a Estrela da Morte. Jyn acaba salva por Saw Gerrera (Forest Whitaker), personagem que deriva dos desenhos de Star Wars. Ele é meio máquina meio homem e anda com uma perna biônica, tem uma armadura presa ao corpo e respira com uma bomba de oxigênio.

Saw Gerrera no filme e nos desenhos Clone Wars 

Jyn se junta aos rebeldes. O intuito é atrair Galen Erso, seu pai, que trabalha pro Império, para que ele desvende alguns segredos da Estrela da Morte. O comandante da missão é Cassian (Diego Luna). Um novato assim como Jyn, mas que perdeu tudo na vida e que é um rebelde desde os 6 anos, como ele mesmo afirma em certo momento do filme. Ele mata sem pensar duas vezes, busca o melhor para si e é cheio de mistérios.

Cassian e Jyn

À trupe se juntam Baze, um típico produto da guerra cheio de cicatrizes, e seu amigo Chirrut, um cego que pode ser descrito como a personificação da Força e sua crença. Fala dela, se rege por ela, anda por ela e clama por ela a cada passo. Chirrut é o mais próximo que se tem dos Jedis nesse novo filme da saga, já que aqui - é claro - os Jedis não existem praticamente depois da execução da Ordem 66 no episódio III.

Chirrut é a própria fé na Força

O dróide K-2SO fecha o grupo. Ele é uma mistura clara de Chewbacca, R2-D2 e C3-PO. É alto, forte e assim como Chewie, manuseia armas muito bem. Ele ajuda nas missões livrando a turma toda das enrascadas como R2 e é desesperado e tem o apelo cômico inglês de C3-PO. K cumpre muito bem seu papel quando aparece.

O dróide K-2SO

A parte final se reserva à grande missão propriamente dita e assim como em outros filmes da saga como o II e o VI - ele mostra o trecho final mesclando as diferentes frentes de batalha. Gareth Edwards, o diretor de Rogue One, foi muito habilidoso em misturar a batalha espacial, a terrestre e dentro da Estrela da Morte. É de tirar o fôlego, pra dizer o mínimo e não escapar do clichê.

Um fã de Star Wars na direção de Rogue One
O visual aliás é belíssimo. Rogue One trouxe luz às cenas de batalha e guerra, nada daqui é escuro. É lindo de ver os Destróieres Espaciais, os Stormtroopers e o Death Squad - os de preto - e tantas outras coisas.

Cenas épicas de batalha

Problemas? Claro que tem. Os personagens são descartáveis. Nenhum tem história passada bem desenvolvida, nem mesmo a Jyn apesar da história dos pais no comecinho do filme. Não dá para se importar de verdade com qualquer um deles, não se cria vínculos, não dá tempo. Talvez o grande personagem seja o universo em si... talvez.

Um filme puramente de guerra

Edwards privilegia a história da busca pelos planos secretos da Estrela da Morte e deixa os personagens um pouco de lado. Foi a escolha dele. Talvez não desse tempo de desenvolver tudo em um filme, é claro, mas nota-se que esse não foi um erro de corte, algo que ficou na sala de edição, nada disso. Fica claro que desde o começo o roteiro não previa nada disso. Então acaba enchendo os olhos com personagens com potencial, mas muito mal desenvolvidos e como disse, descartáveis.

Os Death Troopers tem visual incrível, mas uma relevância quase nula na história

General Tarkin não poderia nunca ficar de fora do filme. Peter Cushing também não. O ator que morreu em 1994 foi recriado em computação gráfica e reviveu o personagem que toma das mãos de Krennic a Estrela da Morte. Em alguns momentos o CGI aqui passou um pouco do ponto, o personagem irreal tem algumas expressões faciais muito estranhas. Não compromete mas causa estranhamento.  

Tarkin (Cushing real) no episódio IV

Vader é Vader. Aparece pouco, mas o suficiente. A primeira cena é magnânima, mostra a chegada triunfal de Vader depois de ficar no tanque de bacta, como Luke ficou no episódio V. Ele se aproxima de Krennic e o amedronta só com a presença. Tem ainda que ouvir o Lorde Negro dizer "está nervoso?", quando este perde a fala. É demais.

Amedontrador

A segunda cena é capital para demonstrar para quem não conhece a fundo a saga e julga Vader como nada mais do que um bizarrão de capa preta e respiração ofegante. O Vader nessa segunda cena é puro ódio e rancor, raivoso e dando muito medo nos soldados rebeldes que o enfrentam em um momento de raiva extrema. Quando os planos da Estrela da Morte são roubados e entregues de mão em mão, de soldado em soldado por um corredor, Vader aparece destroçando um a um com o sabre - o único que aparece no filme todo - usando a Força para enforcar e se livrar de um ou outro. Tudo isso sem mudar o ritmo dos passos e cheio de closes nos rostos apavorados dos pobres soldados rebeldes. Os planos chegam à porta e são entregues para Princesa Léia, de costas, ela recebe e em close fala "Esperança". Fim. É para qualquer fã fervoroso bater palma e querer mais.

Jyn dentro da Estrela da Morte 

Um final ótimo, um típico fan service de primeira e vários easter eggs espalhados por todo o filme - aqueles dois encrencões que puxam briga com Luke no bar, a dançarina do episódio VI escrava de Jabba, o tabuleiro de xadrez holográfico que desta vez tem peças reais, e claro o "I have a bad feeling about this", que nem é completado até o final, a frase é cortada ao meio. Assim como Rogue One, um ótimo filme Star Wars que se presta a responder talvez o maior furo do roteiro da saga - como a Estrela da morte é destruída com apenas um tiro?
Veja abaixo dois trailers de Rogue One: Uma História Star Wars.    


    

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

FASTER, PUSSYCAT! KILL! KILL! (1965)

A gangue

FASTER, PUSSYCAT! KILL! KILL! (1965) - Russ Meyer é um diretor estabelecido em um patamar curioso - ao mesmo tempo que é um dos cineastas mais famosos do underground de Hollywood, é um completo desconhecido para o grande público. Ele foi um dos precursores do chamado exploitation - gênero cinematográfico que explorava sexo e violência. Meyer adicionou à essa mistura muito humor. O resultado deu certo e influenciou muita gente, como Quentin Tarantino, que declarou ter se inspirado nele para fazer Kill Bill e À Prova de Morte, onde Meyer é inclusive citado nos créditos.

Russ Meyer, um dos maiores nomes do cinemão B
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Faster, Pussycat! Kill! Kill! é o terceiro filme de Meyer e apesar de fazer pouco sucesso no lançamento, ele ganhou status de cult e é sempre lembrado como um dos filmes que mais representa o mercado do cinema independente norte americano. A história gira em torno de uma gangue de 3 stripers que gosta de desbravar estradas vazias com seus carros potentes.

Bolando o próximo plano

Um casal vem ao encontro delas. E eles decidem tirar um corrida - as três contra o namorado da menina que acabara de chegar. Ao final, Varla - a líder da gangue - faz uma ultrapassagem ousada e por pouco não causa um acidente que poderia matar o rapaz. Sai rindo. O cara sai irritado do carro e parte pra briga contra Varla. Péssima decisão. As outras duas da gangue - Billie e Rose - seguram a namorada. Varla mata o cara.

Violentas e impiedosas

A gangue dopa a menina. Elas chegam a uma fazenda onde acreditam existir uma grande quantia em dinheiro. Lá vivem um velho numa cadeira de rodas e seus dois filhos homens. Um confuso jogo de aparências, sedução e desconfiança mútuos leva a um desfecho trágico - atropelamentos, briga corporal e facadas.

Armadas

Um filme de pouquíssimo orçamento - menos de 50 mil dólares (tanto que foi filmado em PB para economizar) - mas que respira cult em cada frame. Feito em uma década das mais turbulentas, onde as mulheres lutavam cada vez mais pela igualdade de direitos, Faster Pussycat! Kill! Kill! representa um avanço nesse sentido - aqui as mulheres tem voz, escolhas e força. Elas lideram a gangue, elas matam, correm com carros potentes e fazem as vítimas ao seu bel prazer.

Mulheres vistas como donas da situação

Russ Meyer inovou também nisso, embora sempre com forte apelo sexual - aqui os corpos femininos sempre são pouco cobertos e os decotes para lá de generosos. Faster, Pussycat! Kill! Kill! tem este nome porque Meyer queria garantir ao público que o filme teria muita corrida (Faster), sexo (Pussycat) e violência (Kill! Kill!). E o resultado é uma soma de tudo isso - acima de tudo um filme divertido de se ver.
Veja o trailer de Faster, Pussycat! Kill! Kill!.