quarta-feira, 22 de novembro de 2017

BINGO - O REI DAS MANHÃS (2017)

Alegrando as manhãs

BINGO - O REI DAS MANHÃS (2017) - Daniel Rezende aproveitou as oportunidades que teve. Foi editor do Cidade de Deus - e concorreu ao Oscar por isso - e depois de vários outros de sucesso, como os dois Tropa de Elite, Ensaio Sobre a Cegueira, Robocop (com José Padilha em Hollywood). E finalmente assumiu a direção em Bingo - O Rei das Manhãs, a esperada história que todo mundo já tinha ouvido falar mas nunca em tantos detalhes sobre a vida transgressora de um dos palhaços Bozo.

Um cara ainda em busca de fama

Bingo - que não pôde ser Bozo por questões de direitos autorais - é interpretado por Vladimir Brichta, em seu primeiro papel de destaque nas telonas. O papel foi uma indicação do amigo Wagner Moura, já que o próprio Moura não poderia assumir o papel. Rezende já afirmou em entrevistas que Bingo foi escrito tendo Moura como única escolha. Brichta e Moura são amigos e gravaram até um vídeo promocional hilário para Bingo. Veja abaixo.



A trajetória errante de Arlindo Barreto - o homem por trás deste Bozo - serviu de base para Augusto Mendes (Brichta), ator de pornochanchadas que tenta ser levado mais a sério na carreira. Não apenas pelo próprio ego, mas também para mostrar ao filho e à mãe - uma atriz consagrada - que é sim um ator de talento. Ele consegue um papel minúsculo na novela das 8 da TV Mundial (ou Rede Globo, se preferirem), mas fica irritado porque tem certeza que pode mais.

A saída "triunfal" da TV Mundial

Vai até a TVP (ou TVS, no caso hoje SBT, se preferirem), e acaba entrando numa fila para fazer o teste para o palhaço Bingo. Centenas estão ali sendo reprovados por Peter Olsen (ou Harry Harmon, se preferirem), diretor norte americano que tem a missão de vir ao Brasil instalar o Bingo do jeito que funciona como líder de audiência na televisão de lá há décadas. Mendes se destaca por fazer todos no estúdio rir alto ao fugir do roteiro e descarregar vários insultos contra o gringo que não entende bulhufas de português. Ele passa no teste e é o novo Bingo. Na verdade, Barreto foi o segundo Bozo, mas vale a licença poética.

Já como Bingo...

...ele agrada o gringo diretor

O Bingo de Mendes é criativo, provocador e passa a funcionar melhor quando foge do roteiro engessado e previsível de Olsen. Ele inventa a interação por telefone no programa, e a audiência sobe rapidamente. Em pouco tempo de terceiro ele chega a primeiro, com atrações nada infantis - como o rebolado da Gretchen (Emanuelle Araújo), desbancando o Show da Lulu (ou Show da Xuxa, se preferirem).

O breve relacionamento entre Bingo e Gretchen começou com a participação dela no programa

Ele começa a abusar das drogas e da bebida, inclusive se drogando antes mesmo de entrar como Bingo no programa matinal (algo que Barreto afirma nunca ter feito). Se afasta da família e principalmente do filho, que começa a sentir a sua ausência. Mendes começa a dar problema também no programa, em um momento sangra o seu nariz no palco (algo que Barreto também nega que tenha acontecido). Ele é substituído por outro Bingo.

Bingo substituído
Mendes vai ao fundo do poço - abandonado, esquecido, se entrega mais ainda às drogas e a metade final do filme se presta a mostrar isso. O homem que tinha tudo e abriu mão. Ele encontra a sua redenção na religião e passa a se apresentar numa igreja e a pregar a palavra que acredita vestido de Bingo - Arlindo Barreto ainda faz isso, com sua roupa de Bozo.

O pastor Arlindo Barreto

Daniel Rezende não desperdiçou a chance da sua vida como grande nome por trás de um projeto ambicioso - Bingo é uma estreia honesta, cheia de acertos e que merece grandes aplausos, assim como o homem por trás da roupa de Bozo sempre o quis. Barreto aliás, com relação ao filme, se limitou a dizer que muito daquilo aconteceu, mas nem tudo.

Rezende em ação

BrichtaLeandra Leal - a diretora do programa - estão ótimos também, assim como o jovem ator Cauã Martins - que faz o filho do palhaço - em estreia. A reconstrução de época é algo único, se tem a impressão que o filme é um item saído diretamente dos anos 80, tem muita referência por todos os cantos do filme, sem falar na trilha sonora que tem Echo e the Bunnymen, Devo, Metrô e mais várias oitentistas.

Bingo e seus ajudantes
Além do apuro no visual, Rezende surpreende pelas boas saídas que criou para algumas cenas do roteiro. Em determinado momento Mendes percebe que será substituído, na sequência o eixo da câmera é quebrado, e os holofotes da coxia vão se apagando à medida que um cabisbaixo Mendes passa por eles. Simples e genial.

Mendes perde tudo

Em outro, desta vez um plano sequência incrível detalha os itens do apartamento do protagonista e termina no momento em que ele delira assistindo-se como Bingo na tela da TV. Ele tenta tirar a maquiagem do palhaço e não consegue, é como se estivesse grudado à sua pele. Mendes soca a TV, corta o braco e sangra quase até morte. Acaba resgatado e vai pro hospital. Barreto conta que o acidente aconteceu, só que no banheiro ao se cortar com o vidro do box. Pequenos detalhes de uma vida de abusos e muita palhaçada, no bom e no mau sentido.

"Vivemos de luz e aplausos"

Veja abaixo o trailer de Bingo - O Rei das Manhãs.